A propósito das recentes nomeações que o ministro da cultura francês, em fim de mandato e como manda a tradição, fez para os teatros nacionais e casas de ópera, Augusto M. Seabra, na coluna semanal que mantém no site da Culturgest, Derivas, reflecte sobre esse modelo hierárquico institucional e o "paradigma do príncipe". A dada altura, e numa leitura que não é dispicienda de deslocação para a realidade portuguesa - refiro-me à tentativa de fusão do Teatro Nacional de São Carlos com a Companhia Nacional de Bailado, mas naturalmente outros casos mais mediáticos também servem de exemplo -, Seabra escreve:
«Como se deduz do exemplo da nomeação de Nicolas Joël com quase três anos de antecedência, a responsabilidade da tutela, no âmbito da sua própria legitimidade política, é ainda assim a de intervir tendo em conta que o regular funcionamento das instituições culturais públicas não deve ser afectado por decisões directamente da esfera do político, e que essas decisões se tomam dentro de quadros estatutários e legais e tempos ditados pela própria complexidade das matérias do espectáculo. Salvo em situações absolutamente excepcionais, que em princípio são de um modo ou de outro a de crise declarada na própria instituição, a nenhum governante da cultura responsável, e que responsavelmente esteja ciente do que é a esfera de competências e decisões e os limites da arbitrariedade no exercício do seu legítimo poder de governação, a nenhum governante da cultura responsável deverá ocorrer, supõe-se, precipitar alterações na estrutura e nos quadros directivos de equipamentos públicos como teatros nacionais de ópera ou congéneres, sob pena de perturbar o fundamental, que é a própria prestação de uma possibilidade de serviço público, de serviço ao(s) público(s). »
O artigo é constituído por três partes: Uma nomeação na ópera, A república e o paradigma do príncipe e Méritos públicos e imperativos privados.
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