sexta-feira, julho 21, 2006

Reacções à crise no Rivoli já se fazem sentir

De Francisco Alves, director do Teatro Plástico, uma das companhias de teatro do Porto, chegou ao blog um e-mail, que abaixo se reproduz, reivindicando uma atitude por parte da comunidade artística à expropriação e alienação (os termos correctos têm que ser estes) que Rui Rio pretende aplicar ao Rivoli - Teatro Municipal. Segundo as notícias que circulam na imprensa (ver aqui, aqui, aqui, aqui e aqui ), o Presidente da Câmara Municipal do Porto prepara-se para entregar a sala à proposta mais vantajosa feita por uma companhia de teatro (ver aqui apresentação do plano). Acontece que as exigências (300 apresentações por ano, duas grandes produções e dois espectáculos infantis) são incomportáveis para as companhias portuenses. Razão pela qual se diz que se trata de um acordo feito à medida de Filipe la Féria, que, segundo o PÚBLICO de hoje, já tinha suspirado por uma sala de teatro no Porto.


Caros amigos e colegas

Enquanto profissional das artes do espectáculo da cidade do Porto e membro da Plateia espero que o "leilão do Rivoli" a que estamos a assistir sirva para que, por uma vez, surja uma posição concertada e uma manifestação de força que ponha cobro a uma política continuada de desagregação cultural que, com os mandatos de Rui Rio, fez com que a vida cultural do Porto retrocedesse mais de uma década e que a segunda cidade de um país membro da união europeia tenha a vida cultural de uma aldeia do mundo civilizado a que é suposto pertencermos.

Se os Portuenses não permitiram que o Coliseu fosse desvirtuado das suas funções, está agora nas nossas mãos não permitir que o mesmo aconteça com o único espaço municipal que ainda permite que as artes do palco desta cidade continuem a existir e que ao longo dos anos foi formando públicos para as mais diversas formas de Teatro e Dança.

Numa cidade em que o estado Português financia um teatro nacional, três escolas de artes do espectáculo e várias companhias de Teatro e Dança não é aceitável que o poder central assista sem intervir ao modo flagrante como esta autarquia tem anulado o investimento publico feito e que, ao arrepio de de todas as autarquias do país, não cumpre as obrigações para com o fomento cultural a que está obrigada.

Sendo que no Porto as estruturas de criação artística permanecem sem espaços de trabalho, a entrega de um espaço público a uma entidade privada (qualquer que ela seja) constitui um flagrante atentado à liberdade de criação e à diversidade de oferta cultural e significa na prática o fim da maior parte das companhias de Teatro e Dança do Porto, que têm no Rivoli - Teatro Municipal (sic) a única possibilidade de (sem qualquer apoio financeiro) apresentar a maior parte do seu trabalho.

Pelo limite a que permitimos que "isto chegasse" não me parece que esta situação se resolva com os habituais abaixo assinados ou os mais ou menos cautelosos protestos na comunicação social. Enquanto artistas num país de iletrados temos o dever de cidadania de intervir no momento próprio e romper a resignação com que vamos permitindo que o poder se exerça de forma despótica e nada iluminada e que os merceeiros que tomaram de assalto esta cidade delapidem um património colectivo.

Assim espero que a Plateia - associação de profissionais de artes cénicas - promova uma assembleia geral extraordinária urgente de modo a decidir as formas de luta a tomar e, enquanto contributo cívico e artístico (e sem prejuizo de outras iniciativas), proponho desde já uma acção de "paint ball" à entrada dos paços do concelho para que este executivo perceba na pele que num estado de direito o poder se exerce sempre de forma transparente e em beneficio do interesse público. E que o direito à indignação e revolta é, desde sempre, uma das marcas culturais desta cidade.

Ficando desde já a aguardar notícias,

Com os melhores cumprimentos

Francisco Alves/Teatro Plástico