segunda-feira, julho 24, 2006

Juntos no Rivoli - tomadas de posição

O crítico e dramaturgo Jorge Louraço Figueira escreve sobre a decisão de Rui Rio em passar para mãos privadas a gestão do Rivoli - Teatro Municipal.

Da maneira como foi anunciado, este plano só pode conduzir a um usufruto abusivo por parte dos indivíduos que (o diabo seja cego, surdo e mudo) venham a explorar o Rivoli, um bem público que seria então gerido com fins lucrativos, isto é, pilhado em proveito pessoal. Não se sabe por quem, mas sabe-se que um teatro municipal não pode ser gerido com fins lucrativos, nem pode entrar nas contas da autarquia como um luxo desnecessário: o Rivoli é um fórum que se destina a dar ao maior número de pessoas as mais diversas manifestações artísticas, segundo o princípio de que as actividades culturais são tão necessárias e básicas como quaisquer outras. E é seguindo este princípio que deve ser gerido um teatro municipal. Promover o contrário demonstra que os líderes políticos ou desprezam a vida intelectual dos seus cidadãos eleitores ou preferem limitar a expressão cultural dos mesmos. Nessa lógica, a presidência da câmara bem podia abdicar de toda e qualquer política e limitar-se a dar pão e circo à populaça, começando pelo gabinete presidencial. Se a autarquia pretende abdicar do Teatro, quaisquer que sejam as razões, deve fazê-lo convocando os artistas da cidade e os seus representantes para debater o assunto, e não agir despoticamente, em claro abuso do mandato que lhe foi conferido e em desrespeito das expectativas do público - que o há. O teatro é um dos sítios onde os indivíduos anónimos, consumidores passivos, alvo da saliva concupisciente dos media e dos partidos (em alternância), se revelam pessoas concretas, capazes de pensar pela própria cabeça e ver as diferenças entre uma coisa e outra. Claro que isso não interessa...


O texto foi originalmente publicado no site Juntos no Rivoli que reúne as assinaturas e comentários dos que se opõem a esta posição do Presidente da Câmara Municipal do Porto. Reproduzido no blog com autorização do autor.

1 comentário:

Anónimo disse...

Porque é que o entregam o Rivoli ao Fragateiro?