sexta-feira, março 03, 2006

Danças de Kandy

pela Peter Surasena Dance and Drum Company
ontem na Culturgest, domingo no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz

As danças de Kandy remontam ao século XVI e floresceram até ao século XIX sob os auspícios dos reis de Kandy, na ilha de Ceilão (actual Sri Lanka). Fundado em meados do século XVI, Kandy - o "Reino das Montanhas" - constituiu o cerne do Budismo Theravada na ilha de Ceilão e teve sucessivamente de enfrentar a pressão político-militar de portugueses, holandeses e ingleses, até se extinguir às mãos destes últimos em 1815. Hoje elevadas ao estatuto de forma artística nacional, os seus movimentos enérgicos acompanhados por um elaborado sistema rítmico, marcado ao som de tambores (gete-bere) e címbalos, a beleza das vestes e ornamentos dos bailarinos, transportam-nos para o fascinante universo das tradições ancestrais e religiosas cingalesas. Existem no Sri Lanka três estilos diferentes de dança tradicional: pahatha rata natum, sabaragamuwa e as danças de Kandy, conhecidas como uda rata natam. Durante quase três séculos, a corte dos reis de Kandy assumiu-se como um importante foco cultural, sendo as referidas danças uma das expressões artísticas mais vivas da ilha e da Ásia do Sul. Os reis de Kandy elevaram a dança a uma tal beleza e perícia que os monges budistas começaram a admiti-la nos pátios dos seus templos como um tributo à glória da sua religião. Tornou-se parte do importante festival anual Perahera, que decorre em Agosto, em que um cortejo de elefantes dourados, palanquins, monges de túnicas cor de açafrão, tambores e cantores de coro avançam majestosamente para o Tempo do Dente, Dalada Maligava, onde o dente de Buda é venerado. A actuação dos bailarinos constitui a atracção maior, enquanto dançam a caminho do templo.


Mabul Bera - Tambores Auspiciosos

No Sri Lanka o som destes tambores dá início a qualquer evento religioso significativo, saudando os deuses e a audiência (são as notas básicas da escala de percussão, tha-ji-thoh-nun). O tambor é uma parte integral das danças de Kandy e a santidade está directamente associada aos tambores e à precissão. Dos vários tambores que são usados o mais importante para a dança é o gete-bere (gete significa chefe), que é tocado em todas as ocasiões festivas no Sri Lanka. Acredita-se que foi construído sob orientação do Maha Brahma, o deus supremo. O cilindro é feito a partir de um único bloco de madeira com 67 cms de comprimento. As peles do tambor são de macaco do lado direito e de boi do lado esquerdo para produzirem diferentes tons. As cintas de pele de veado são ajustadas de forma a dar a tensão adequada na afinação. O tambor é pendurado à contura do músico e tocado com as duas mãos.



Samavala Vannama - A dança da borboleta

Mudadeniye Gedara Peter Surasena é um dos mais conceituados artistas do Sri Lanka, descendente de uma família de bailarinos que actuava na corte dos reis de Kandy, e tem sido amplamente galardoado pela sua arte e mestria. Samanala Vannama é uma dança popular do repertório de danças de Kandy. A palavra vannama significa descrever. O vannama descreve o movimento de um certo animal, ou relata histórias de vidas anteriores do Buda. Nesta dança, o bailarino imita os suaves e graciosos movimentos de uma borboleta.



As danças de Kandy são caracterizadas pelos elaborados trajes e um sofisticado sistema rítmico (tala), que é marcado ao som de tambores e pequeníssimos pratos (thalampataa). Os bailarinos usam na cabeça uma peça de prata cónica, em forma de pagode, com uma franja cintilante sobre a testa, colares de contas de prata e marfim com muitas voltas, sobre o tronco nú, dragonas de prata martelada sobre os bíceps e, nos tornozelos, pulseiras ocas cheias de contas de prata, para chocalharem. Rodam dando saltos e culminam violentamente com esquemas geométricos. Os movimentos súbitos da cabeça para a esquerda e para a direita são estonteantes. Enquanto contam uma história, cantam passagens descritivas e teatralizam-nas com vigorosos movimentos de dança. Há danças que são dançadas exclusivamente por homens e outras por mulheres. As danças de Kandy têm quatro variantes distintas designadas pantheru, naiyadi, udekki e ves (a mais artística e conhecida). Os seus movimentos energéticos e as suas posturas são reminiscências da dança kathakali da Índia.


Dança Ves

A dança Ves deriva de um rito ancestral de purificação e ainda é executada como propriação, sendo praticada unicamente por homens. Esta dança constitui o momento fulcral do Kohomba Kankariya. O bailarino enverga o mais completo traje de dança cingalês, que originalmente era composto por 64 adereços e ornamentos. Acredita-se que este traje se assemelha às vestes dos reis de Kandy. A palavra ves significa máscara, disfarce ou aparência. dado que o bailarino aparece vestido como um rei, a dança é conhecida como dança Ves.

Fotografias exclusivas de José Luis Neves. Informações retiradas do programa do espectáculo.