A Associação Portuguesa de Críticos de Teatro editou o quarto número da revista Sinais de Cena, correspondente ao segundo semestre de 2005. A revista - coordenada esta vez por Fernando Matos Oliveira e José Oliveira Barata - abre-se aos novos territórios cénicos, nomeadamente às margens do teatro. A justificação surge logo no texto Disciplinaridade e redenção nos estudos performativos, de Fernando Matos Oliveira: "os estudos performativos mobilizam hoje um vasto conjunto de tradições disciplinares, entre a antropologia, a filosofia, a sociologia, a linguística, os estudos teatrais e os estudos artísticos em geral. O carácter aberto e inclusivo do campo une-se em torno de um conceito lato de performance enquanto "acção", o seu mínimo denominador comum."
Assim, o dossier genericamente intitulado Performatividades, reúne contributos vários: Em busca de um devir performativo queer em Portugal (João M. Dinis Ferreira) - que, em conjunto com a entrevista de Miguel-Pedro Quadrio e Mónica Guerreiro a André Murraças e Miguel Abreu A invenção do "actor T": teatro de género em Portugal, e a crítica a «Escravos d'outros» de Luís Castro, por Maria Helena Serôdio, Um Jardim Zoológico que não é de cristal, ambos publicados no nº3 da revista, abrem caminho para uma fixação do discurso sexual-performático contemporâneo, caucionando ou questionando a pertinência da classificação queer - (des)centralidades: Considerações sobre a novíssima dança portuguesa (Daniel Tércio), brrr - Festival de live-art: Uma (não) história por imagens (Rita Castro Neves), Arte (u)tópica: Escalas e intensidades (Cláudia Madeira) e Body art: Conceitos, práticas e uma visita de Gina Page a Portugal (Liliana Coutinho) - que remete para o texto de João Maria André A dor, as suas encenações e o processo criativo, publicado no nº 2 da revista.
Este dossier dialoga assim com o conjunto de críticas apresentadas aos espectáculos da Cornucópia, Artistas Unidos, CENDREV, Teatro Praga*, Teatro Bruto/TNSJ e Sindicato de Poesia e dá justificação ao "tratamento igual" ao teatro de marionetas, uma prática normalmente secundarizada, e aqui representada por uma entrevista a João Paulo Seara Cardoso, do Teatro de Marionetas do Porto (Paulo Eduardo Carvalho e Isabel Alves Costa). O nº 4 da Sinais de Cena "encaixa" assim no texto de Erica Fisher-Lichte A cultura como performance: Desenvolver um conceito que parece "apadrinhar" este número: "During the last years, our understanding of cultural processes has changed considerably; and so has our concept of culture. We do not proceed any more only from the assumption that culture has to be understood as a text, made up of signs that has to be read as the concept of culture will have it that dominated since the linguistic turn in the seventies: "Culture as text". We rather have come to understand that culture is also, if not in the first place, performance. It can hardly be overlooked to what an extent culture is brought forth as and in performances – not only in performances of the different arts, but also, and foremost in performances of rituals, festivals, political rallies, sport competitions, games, fashion shows and the like – performances which, in a mediatized form, reach out to millions of people. Hence it follows that the concept of performance, that performance theory is in the centre and at the heart of all debates in cultural, social and art studies.", apresentado em tradução portuguesa de Maria Helena Serôdio.
É um passo importante no percurso de uma revista que se apresenta, no editorial, como "uma forma de subverter mapas da cultura ou da comunicação" e que elege "o teatro como plataforma riquíssima para estudar a arte e o humano". A ideia de contributo para um estudo das práticas cénicas ou a fixação de metodologias e discursos criativos parece assim, e finalmente, tomar um rumo na Sinais de Cena. Importa agora pensar o seu lugar na realidade nacional.
Título: Sinais de Cena nº4
Edição: Centro de Estudos de Teatro
Distribuição: Campo das Letras
Preço: 12 €
* Ratoeira, de minha autoria
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