sábado, fevereiro 11, 2006

Catástrofe cúmplice

Crítica a NEXT Fence
De Rasmus Ölme
Culturgest
10 de Fevereiro 2005
21h30
sala cheia


Há em NEXT Fence uma ideia de suspensão, mas também a eminência de uma de catástrofe que não se relaciona só com a enorme tela que paira sob o corpo dos três intérpretes, comprimindo-os. Está também presente nos corpos, cuja respiração e sonoridade é abafada pela omnipresente música tocada ao vivo de Igor Paszkiewicz, com refrões que são palavras de ordem (“just to feel”, “i like to play tough”, “i can’t see you try”, por exemplo). São corpos presos (auto-cercados?) que se organizam em sequências reactivas numa busca pela uniformidade e solidez, propondo uma reflexão sobre a representação, atenta sobretudo à expectativa que cada papel carrega.

Nesta breve peça do coreógrafo sueco Rasmus Ölme, fala-se de violência, perseguição, sacrifício, sobrevivência, crença e escape. Fala-se de um estado de espírito histérico, que obriga os corpos a procurarem uma unidade e a reflectirem sobre o modo como contribuem (contribuíram?) para a catástrofe. É um programa eminentemente político, e por demais actual, assente no corpo e no modo como este reflecte a realidade que o cerca.

Estamos perante um exercício de estilo fisicamente exigente, com um ritmo vertiginoso e à beira do precipício, no qual Rasmus Ölme, Carmelo Fernandez e Dan Johansson, através de movimentos hiper-simples (quedas, suspensões, braços abertos, corridas) assumem diversas máscaras (perseguidor, carrasco, vítima, observador), num jogo expectante de hiper-protecção. Há na forma como se relacionam uma unidade coreográfica que substitui a individualidade, fazendo dos corpos agentes num jogo de espera e pós-reacção.

A histeria a que o coreógrafo se refere nos textos do programa está presente nos diversos movimentos que buscam inspiração nas artes marciais, não tanto como técnica de ataque, mas de procura de uma pós-paz. Há uma necessidade de apaziguamento, como se cada gesto e cada decisão fossem justificados não só pelo natural espírito de sobrevivência, mas sobretudo pela necessidade de sobrevivência. Assistimos, por isso, à assimilação de mecanismos de reacção e auto-defesa, numa coreografia consciente de que o medo existe porque projectado no desconhecido e não baseado em experiências pessoais.

Talvez por isso, o silêncio dos corpos funcione como uma barreira (a cerca?), dando a ler uma placidez na violência das sequências. Como se, de facto, a criação de mecanismos de defesa e ataque fosse a atitude mais natural. E as respostas directas, equivalentes e suicidárias fossem uma brincadeira. A troca de olhares entre intérpretes (e o espaço que dão a cada um quando se colocam fora de cena a observar) remete-nos para o perigoso jogo do extremismo terrorista. E aquilo que tinha sido considerado como uma simples pausa para recuperação de fôlego dos intérpretes, ao fim de duas sequências, começa a assemelhar-se a uma cumplicidade. De repente, como diz para o público Rasmus Ölme durante essa pausa e num “momento de improviso”, “tudo pode acontecer”.

2 comentários:

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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