domingo, janeiro 15, 2006

(ainda) algumas breves notas


1. É curioso pensar que, em plena campanha presidencial, ninguém tenha querido saber a opinião dos candidatos sobre a crise que nos ultimos dias eclodiu no mundo da cultura. Ou que nenhum deles sobre isso se tenha pronunciado. A ausência de declarações contrasta com o facto de um dos candidatos ser também poeta, e as comissões de honra estarem pejadas de artistas e criadores, sendo que alguns assinaram a petição Queremos um Ministério capaz que, por esta altura, quase chega às 1900 assinaturas. Este "pequeno pormenor" é o reflexo directo do modo como a cultura é usada para dourar a moldura, e segue à risca o que Cavaco Silva escreveu num dos volumes da sua autobiografia, "é preciso ter os artistas ao nosso lado, nunca se sabe quando nos podem ser uteis" (mais palavra, menos palavra). Dai a fazer-se alguma coisa por eles é toda uma outra campanha.

2. Vasco Pulido Valente, escreveu hoje na ultima pagina do jornal PUBLICO, que não tem estado muito atento à "presente polémica sobre a ministra da Cultura", mas diz que supõe tratar-se "sobretudo da demissão do director do D. Maria e, em geral, da política de teatro". E acrescenta: "de qualquer maneira, os pormenores não interessam muito". Este insistente menosprezo pela crise que a cultura nacional atravessa, esquece que estamos longe de uma guerra entre classicos e conceptuais, ou feita por lobbys, como parecem querer dar a ver determinados agentes culturais. Talvez seja necessario reafirmar que esta "orientação ministerial" afecta actores, encenadores, coreografos, interpretes, escritores, produtores, programadores, pintores, escultores, videastas, ensaistas, poetas, filosofos, investigadores, fotografos, realizadores de cinema, tecnicos de audiovisual, etc, etc, etc... Subsidiados e não-subsidiados (para usar termos sempre correntes em discursos demagogicos). Ou seja, afecta o publico. Trata-se de uma industria e de uma economia que mexe com varios sectores da sociedade. E se assim não se considerar, então sim, que se acabe com o Ministério da Cultura.

3. Carlos Fragateiro, o novo director do Teatro Nacional, deu ontem uma entrevista ao Expresso, onde entre outras pérolas disse que vai ter um especialista em internet para lhe dar a conhecer o que se vai passando fora do seu gabinete no Rossio. Um especialista, enfim... Mas Fragateiro aproveita para dizer que se indignou com as assinaturas de alguns criticos de teatro na petição, que não teriam outra intenção senão "atingir a Ministra da Cultura" a "qualquer pretexto". Miguel-Pedro Quadrio, critico no Diario de Noticias, reagiu hoje dando conta da sua posição. E salientou alias o impressionante facto da Associação Internacional de Criticos de Teatro (que apresentou o 1° numero da revista Sinais de Cena e entregou os prémios da Critica 2004 no TNDMII), ainda nada ter dito. Mas o que Carlos Fragateiro deveria reconhecer era, precisamente o facto de haver 5 criticos (onde me incluo), e nem todos a fazerem parte dos cerca de 30 que compõem a APCT, se darem ao trabalho de dizer ao que vêm. É que também os criticos são agentes culturais, muitas vezes validando discursos que servem para justificar programações ou "organizando" as propostas de modo a que possam dar conta, de forma mais realista, do que é valido e o que é mero populismo. Razão pela qual e enquanto futuro director do Teatro Nacional deveria dar-se por satisfeito em haver criticos que assumem um discurso e não se escondem em silêncios por demais ruidosos.

14 comentários:

Anónimo disse...

ainda hoje o louçã disse que a cultura não podia ser tratada como uma quinta do governo. foram todos convidados a expressarem a sua opinião mas os jornais apenas mostram o fait divers e eles dizem não ter todos os elementos necessários para se pronunciarem.

Anónimo disse...

O português deste post deveria ser rapidamente corrigido, se quer o senhor Tiago Bartolomeu Costa ser legitimamente reconhecido na qualidade de «crítico». A crítica tem obrigações gramaticais, caso não queira ser confundida com uma fábrica de disparates. Como já deve ter percebido o senhor Tiago Bartolomeu Costa, a palavra «disparates» não foi posta aqui por acaso. Passo-lhe a palavra.

Anónimo disse...

Reduzir um discurso aos erros gramaticais, é de um vazio abjecto. Até porque a linguagem vai-se desenvolvendo numa "mestiçagem" constante. Agarre-se ao conteúdo, não use a formula para contestar a forma.

Anónimo disse...

Dou um salto aqui para ver se o senhor Tiago Bartolomeu Costa já se dignou responder aos meus reparos, e eis que vejo um amet a ameter-se onde não é chamado. Outro que de gramática não sabe peva, e ainda assim atreve-se a "escrever". É o que eu digo: cada blog tem os leitores que merece. (cf. infra.)

Tiago disse...

ainda não respondi, caro Gustavo Rubim, porque, na verdade nem sei bem por onde começar a analisar a entrevista que o novo director do TNDMII deu ao Expresso. Mas posso desde ja adiantar-lhe que não vou responder aos erros gramaticais. Estou fora de Portugal e a utilizar um teclado estrangeiro, razão pela qual ha falhas. De qualquer forma, agradeço-lhe os reparos ortograficos. Quanto ao conteudo, pode crer que vou continuar a escrever. E mais um aspecto, também eu lamento o tom de alguns comentarios. Mas enfim, vivemos num pais livre.

Anónimo disse...

O Sr. Gustavo Rubim só gosta de dialogar através de insultos, boicotes e ameaças.
O Sr.(sr., enfim) só perde apoiantes com esse tipo de discurso agressivo e pouco humilde.
Não se chateie tanto. Porque não nos vai conseguir tirar de 'cena'. Nós vamos continuar. Ai vamos vamos. Porque nós, os meninos temos 'quereres'...

Anónimo disse...

Acho que o nível do debate está um pouco (leia-se muito) rasteiro. penso que são mais as coisas que nos unem do que as que nos separam e que se debatermos elevadamente os assuntos podemos mudar algo para melhor. não percamos tempo com o electodoméstico do vizinho. os ataques pessoais num post são de uma inutilidade absoluta. É no entanto gratificante encontrar um local onde estas questões sejam debatidas fervorosamente ainda que sem expressividade significativa. deixem o quarteirão e venham à polis debater os assuntos de todos nós.
Obrigado

Anónimo disse...

Hoje finalmente li a entrevista do Sr. Carlos Fragateiro ao Expresso. Sinceramente, não encontrei nada que me chocasse excepto o facto de ter percebido que só um terço do orçamento do D. Maria é dirigido à produção, e o novo director parecer achar isso normal. Enfim, pode ser que no ramo assim seja...

De resto, em vez de palavras sonantes, mas vazias, apresenta ideias. Poderia mesmo dizer que apresenta mais ideias numa entrevista que todos os candidatos presidenciais juntos numa campanha eleitoral inteira – embora isso também não seja muito difícil, mas a falta não será ele.

Mas tão importante como as ideias, também se obriga a alguns compromissos, nomeadamente remuneratórios, de disponibilidade para sujeitar o seu lugar a um concurso público, de respeito para com a programação da direcção cessante, e – muito importante – de resultados.

Claro que uma coisa é falar, outra é fazer. Mas quando o mundo à volta deste indivíduo está em polvorosa, com uma ministra incendiária e uma classe artística a erguer barris de pólvora, é bom que o novo director do D. Maria se comprometa com o futuro, expresse bem as suas ideias e compromissos para o devir do D. Maria, e tente não se deixar cegar pelo fumo à volta levantado.

Já o director cessante não me surpreende que tenha sido demitido. A má impressão que tinha, fundamentada em alguns dados, mas subjectiva por natureza, surge no mesmo semanário confirmada. Se a caixa do Expresso, ao lado da entrevista, intitulada «DANÇAS COM NÚMEROS» for fiável – e tenho de admitir que sim – o espantoso é como é que tanta e tanta gente pode ainda defender a gestão cessante do D. Maria II. Pode aceitar-se que um teatro como D.Maria tente sistematicamente disfarçar o vazio das salas oferendo mais convites que bilhetes vende? Como se explica aos contribuintes (que sustentam o D. Maria) que seja costume ter menos de 1000 espectadores um espectáculo que custa mais de 100.000 euros? Explica-se pela qualidade? Pela erudição? Mas onde está a qualidade e erudição de espectáculos como o «Como Aprendi a Conduzir?». Sei que houve a «Berenice», e não me canso de a louvar. Mas foi a excepção...

Continuo a fazer votos que as mesmas pessoas que hoje se insurgem contra o novo director do D. Maria acabem por vir a beneficiar com esta escolha. E, sem certezas, tenho no entanto uma boa esperança que assim seja. Já igual, ou pior do que está, dificilmente será possível.

NOTA: alguns comentários neste blog terão ultrapassado os limites aceitáveis mesmo a uma discussão acalorada. Gosto da discussão que aqui está a ocorrer, mas não quero contribuir nem com comentários infelizes, nem com comentários que instiguem a comentários infelizes. Creio que quanto à questão do D. Maria estou aqui contra a opinião predominante, inclusive contra aquela que é a opinião dos responsáveis por este blog. Mas o facto de estar «do contra» não significa que não respeite quem aqui está com ideias diferentes das minhas. Pelo contrário, e aproveito para saudar a todos os que aqui passam, em particular os cuja opinião difere da minha, e muito especialmente quem mantém este blog, um trabalho mais que louvável num país onde o teatro, não obstante a excelência de alguns seus agentes, ainda está pouco maduro.

Anónimo disse...

Lamento dizer-lhe, senhor Tiago Bartolomeu Costa, que as correcções de que eu falava (e falo ainda) são gramaticais, não ortográficas. Eu sei ler e o senhor tem um aviso, quanto ao teclado que usa, bem à vista. Mas eu já o vou conhecendo melhor e nem sequer estou à espera que o senhor se aperceba dos erros de gramática que este post ostenta. É pena, sobretudo porque o senhor reclama o estatuto de «crítico».

Agora outro assunto:
«O Sr. Gustavo Rubim só gosta de dialogar através de insultos, boicotes e ameaças.», diz o misterioso e inefável amet.
Esta afirmação aplica-se bem a quem a escreveu, que nem sequer é capaz de dizer quem é, ocultando-se atrás de uma sigla, ou coisa que o valha. O amet não encontra insulto, boicote ou ameaça que eu tenha praticado em parte nenhuma, mas encontra, isso sim, a pachorra para dialogar até com o próprio amet, o que nada neste mundo justifica. Mas, ao contrário do que julga o amet, eu não procuro apoiantes; defendo a minha posição e a verdade (a verdade, note bem) onde e quando tiver de ser, sempre com o meu nome por baixo. Isso terá de servir de explicação para a pura perda de tempo que é esta coisa de responder aos amets da blogosfera. Passe bem.

Anónimo disse...

«Insulto, boicote e ameaça", letra de uma canção de Sérgio Godinho (sou uma pessoa do povo, enfim). Tudo isto pelo constante apontar aos erros (e de uma forma professoral), que eu acho importante, mas que funcionam hermeticamente como um «insulto, boicote e ameaça» a qualquer diálogo. Da minha parte, sobre os erros que cometo, já expliquei num post anterior. Sou, in/felizmente, um pequeno "cidadão do mundo". Mas é um pouco decepcionante ver essa "cartada" ser usada sucessivamente no meio de diálogos que podem ter um interesse relevante para ambas as partes.
E como tanto o seu discurso, como o do Tiago, e mesmo o meu, derivam dialeticamente de uma crença profunda, acho óbvio e natural que (apesar do respeito que temos pelos outros) tentemos levar o 'barco ao seu moinho'. Gostaria de o compreender melhor. Só isso. Sabendo que cometo erros, e que o Tiago comete erros. Uma conversa franca, sem acentos nem pontuação a ser chamados consecutivamente à conversa.
Porque afinal esta matéria que andamos a discutir somos nós em várias acepções (nós artistas, nós portugueses, nós sem força nenhuma numa Europa que nos abandona). Creio que quanto mais partimos a cabeça, e encontrarmos as afinidades (em vez das diferenças, que devem ser mais-valias e não defeitos), mais força teremos juntos.
Só isso, peço desculpa se fui lido de outra forma.
André de Mendonça Escoto Teodósio

Anónimo disse...

gostava muito de ter a esperança do sr um espectador mas já ando cá há muitos anos e conheço as figuras que andam e andaram a rondar o TNDMII e infelizmente conheço também as negociatas por trás. são tristes e só em portugal se faz esta politicazinha de bastidores onde a direcção dos teatros e institutos decorrem de nomeações meramente políticas. quer seja PS ou PSD. o país da cunha. sempre foi e continua a ser. Portanto nada disto me choca. Entre um TNDMII moribundo e entregue aos amigos do director ou um TNDMII populista e dedicado ao entertenimento inculto...VENHA O DIABO E ESCOLHA!

Anónimo disse...

Caro André M. E. Teodósio:
Não peça desculpa. Este nosso curto diálogo estava condenado a falhar, nascendo onde nasceu. Mas nem tudo falhou: eu tenho o gosto de o ver assinar com o nome todo; o André teve a argúcia de adivinhar que eu sou professor (de literatura) e que o meu tom era, como tinha de ser, "professoral". Eu explico-lhe com prazer o seguinte: não podia aceitar discutir ideias num blog onde as minhas ideias foram tratadas como "disparates" - é uma questão de ética. As minhas ideias (que outros trataram como tal), expostas no blog Casmurro, foram aqui sistematicamente distorcidas, só porque eu me pus à margem de um movimento político (político, insisto) de cujas intenções não posso senão suspeitar. A «atitude» de querer a cabeça da Ministra numa bandeja é que é indigna de uma verdadeira discussão de ideias e bastante reveladora dos interesses de quem a toma. O mal, neste caso, é que eu conheço esses interesses e a rede de poder que eles formam: foi isso que denunciei e não estava à espera de ser bem recebido. Isto é a base, é a verdade de que lhe falei e da qual não há quem me faça abdicar. Agora, quem leia o que escrevi no blog Casmurro percebe que, para lá disto, tenho uma ideia de teatro e uma ideia do que deve ser um Teatro Nacional (e são ideias independentes do que digam ministros, directores, ex-directores ou gente bem instalada no mundo «da cultura»). Tenho todo o gosto em conversar consigo, caro André, sobre essas ideias, mais em detalhe. Se estiver interessado em continuar a conversa, escreva para o blog Casmurro (ou para grubim@hotmail.com). Vai ver que eu sei mais do que regras de gramática. Saudações teatrais!

Anónimo disse...

quanta modéstia. é um país de doutores, sabem todos muito. que bom!

Anónimo disse...

Lá estarei.hihhihi.