Fé de elite

Ontem, a missa por alma do meu avô decorreu na igreja de S. João de Deus, na Praça de Londres. A igreja é frequentada pelas senhoras que bebem um galão a tarde toda na Mexicana e se perdiam nas bicas escaldadas da pastelaria Roma (hoje infame MacDonald's). A dada altura, no meio do discurso do padre, sobre as diversas formas de interpretar os termos "não roubarás" e "não matarás", apercebo-me que há um vagabundo no banco da frente que abre um pacote de vinho caseiro e brinda ao próprio padre. Parece que é habitual deixar-se ficar sentado a assistir à missa. E depis da comunhão, que fez, foi embora. Não sem antes recitar uns versículos da bíblia, ao mesmo tempo que se rezava qualquer outra coisa.

Este vagabundo é um incómodo para as devotas que frequentam aquela igreja. De facto ele cheira muito mal. E foi impressionante ouvir o que o padre dizia acerca de matar e roubar ser impedir o outro se ser igual a si próprio, ao mesmo tempo que se assitia ao incómodo das senhoras. Ora afastavam-se, ou temiam que ele se viesse sentar ao lado delas, ora apertavam o nariz e se abanavam com o leque.

No fim da missa rezavam em coro, anunciando que iam espalhar a bondade e a palavra de Deus, uma vez que éramos todos iguais. Bem, talvez uns mais que outros.

Tchim-tchim.