sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Porque vou votar PS (enfim...)

Convêm dizer que não tenho partido nem sou simpatizante de nenhum. Não por uma questão de descrença, mas porque sou incapaz de assinar de cruz todas as opções dos partidos. A única coisa em que acho que vale tudo é no amor. E aí fecho os olhos e voto sempre. Seja ou não pela maioria absoluta.

Tenho um pai comunista militante ortodoxo. Dos que acham que a relação entre cristianismo e comunismo não é assim tão absurda. Eu até concordo com ele, de facto. Tenho uma mãe alheada politicamente e que vota no PS porque entre o ex-marido preso à foice e ao martelo e uns pais sociais democratas sem saberem bem porquê (mas sobretudo em oposição ao terror vermelho), lhe restou a rosa pálida. Mas, a bem da verdade, nem sequer vai votar.

Por ser agente cultural, sou tendencialmente de esquerda.

E voto em Almada. Tenho que tratar do recenseamento eleitoral mas só me lembro disso na altura das eleições e aí já é tarde. Voto desde os 18 anos e só falhei duas vezes. Nas eleições de 1999, porque estava no Porto a trabalhar e no referendo ao aborto, porque quando cheguei ás urnas eram já 17h30, tinha-me esquecido do cartão de eleitor e já não tive tempo de voltar a casa. Voto porque acho que só assim tenho o direito de ter uma opinião. Mas isto não quer dizer que ache que o voto deva ser obrigatório. Cada um sabe de si. Deviam era saber um bocadinho mais. Irrita-me tanto a expressão "povo" como o "olhe por nós que somos pobres"

E voto, ainda, porque me lembro sempre das primeiras eleições para o Parlamento Europeu terem decorrido durante o verão e estar na praia a acenar para um avião da RTP a gravar os banhistas. Todos acenavam para provarem que não se interessavam por política. E eu achei isso um disparate e senti-me envergonhado, mesmo que não pudesse votar na altura.

Votei sempre na CDU para as eleições autárquicas, mas só para a Câmara Municipal. Desconhecia os candidatos à Assembleia Municipal, Junta e Assembleia de Freguesia. E quando saí de Almada e vim viver para Lisboa, passei a votar em branco. Nas eleições presidenciais votei no Sampaio. Portanto, é fácil imaginar o murro no estômago que foi a crise do verão passado. E quanto às Europeias também votei sempre em branco, excepto na última. Ainda não percebi bem como contribuir para uma aproximação entre a Comunidade Europeia e os eleitores. E como não me parece que deva votar num qualquer, resta-me o branco.

Nas últimas legislativas votei no PSD.

E votei no PSD porque não quis votar em quem não tinha resistido a um desaire autárquico. Porque não quis acreditar numa leitura nacional dos resultados. Porque não acredito no unanimismo. Porque achava que um país de cor diferente do governo poderia significar um choque que permitisse a evolução.

E votei no PSD porque achei que, sendo agente cultural, estava cansado de pedinchar por verbas. Acreditei (como acredito) que só com as finanças públicas organizadas e uma sociedade com as necessidades básicas garantidas (habitação, saúde, educação) é que a cultura iria deixar de ser olhada como um "ladrão" de verbas. Votei para que algo mudasse. Eu acreditava nisso. Votei portanto em Manuela Ferreira Leite e numa política económica que desse a Portugal melhores condições de vida. E também porque me recordava de uma entrevista de Durão Barroso em que dizia que o PSD era um partido de esquerda moderada.

Mas um voto é só uma cruz num boletim. Não é um discurso, um fundamento, uma manifestação, uma posição. Um voto é uma cruz no boletim. Apercebi-me disso na noite em que anunciaram a coligação. E senti-me traído. Eu não tinha votado em Paulo Portas. Eu não gosto de Paulo Portas. Eu não acredito no CDS-PP.

O fim do governo socialista levou ao cancelamento de projectos que aguardavam financiamento; ao corte de verbas que estavam acertadas; ao endividamento pessoal em nome desses projectos. Ou seja, não me trouxe grandes vantagens. E trouxe-me tristeza por terem feito com o meu voto um acordo que não queria.

Por isso, quando houve Europeias, votei contra o PSD. Votei para me vingar. E Durão Barroso foi-se embora. Acreditei que se a escolha tivesse sido Manuela Ferreira Leite a coligação acabava e o meu voto seria respeitado. Mas veio Santana. E eu senti-me traído por Barroso e por Sampaio. E traído pelo meu próprio voto. Fiquei com náuseas, furioso, irritado. E arrependi-me de não ter tratado do recenseamento eleitoral mais cedo para não deixar que Santana ganhasse Lisboa.

E agora vou votar PS. Não porque ache que Sócrates será um bom primeiro-ministro. Não acho sinceramente. É um peixe escorregadio, ambíguo e suspeito. Não acredito numa só palavra do que diz, tal como acho que o discurso dele é imposto. Não sei se ele acredita no que diz. Por isso, decidi não tratar do recenseamento eleitoral a tempo. Votar em Almada permite-me votar em António Vitorino. O único que vi fazer algo decente quando se demitiu. Mesmo que me irrite a pose de D. Sebastião.

Vou votar PS, mesmo que ache que é um saco de gatos tão grande como o PSD. Vou votar PS mesmo que ache que vão voltar os mesmos que desistiram do país em 2001. Mas vou votar PS porque quero que Santana desapareça de vez; e quero que o PSD sofra com isso; e quero que uma maioria absoluta não lhes dê desculpas para não fazerem o que têm de ser feito; e porque quero mudança num país que não se respeita.

Não vou votar CDU porque um partido que não considera a renovação e expulsa os críticos, não é um partido democrático, mas uma asfixia. Tenho pena de não votar CDU. Tenho mesmo pena porque apresentam trabalho, porque acreditam no que fazem e porque dão ao partido o que ganham na Assembleia.

Não vou votar no Bloco de Esquerda porque não acredito. Parece-me sempre que se estão a candidatar à Associação de Estudantes de uma escola secundária. Não acredito na pose neo-anarca que mantêm e porque desperdiçam o espaço que têm para ser negligentes com questões sérias: prostituição, toxicodependência, homossexualidade. Tratam-nas de forma abrupta e quase arrogante. O que, por vezes, os aproxima do fundamentalismo do CDS-PP. É por isso que a frase de Louçã não me surpreendeu. Eu sabia que debaixo daquela figura se escondia um burguês do pior.

E não vou votar Bloco de Esquerda porque a aproximação que estão a fazer ao PS não só é escandalosa, como me parece perverter os seus princípios. Seriam (são) mais úteis na oposição que no governo. E espero que assim consigam mudar o estado das coisas. Mas não sou capaz de votar neles. Mesmo que esteja com eles na necessidade de discutir políticas de ruptura. Acho é que questões como o aborto, eutanásia, casamentos entre homossexuais e liberalização de drogas não vão lá por referendo. Vão por imposição. O país não sustenta a evolução natural. É muito lenta.

Vou votar PS porque estou cansado de instabilidades políticas. Porque quero um país que cresça. Porque preciso de me sentir capaz de trabalhar sem andar constantemente a perceber quem vai ser o decisor das questões que me interessam. E vou votar PS mesmo sem ter percebido o que é o choque tecnológico, sem saber como vai o PS tratar das questões que importam sem ceder aos interesses maiores e aos populismos, sem saber que futuro me reserva. E também sem acreditar que para a cultura irão fazer melhor.

Mas vou votar no PS porque já não aguento mais. Vou, pela primeira vez, votar de forma inconsciente, por necessidade e de olhos fechados. Vou votar no PS porque, enfim, quero acreditar que um dia uma nova geração de políticos vai surgir. Mas que isso só surge com um Portugal confiante. E não quero que me acusem de não ter ajudado. Como só temos duas hipóteses de formação de governo, resta-me votar em quem tem essa oportunidade.

O meu voto é, por isso, também e ainda um voto de protesto. Incluíndo contra o PS que fugiu.

Eu acredito nas instuições, nos que têm o poder, nos que podem ajudar. Eu quero ajudar, preciso que me digam como. Se o meu voto no PS ajudar, contem com ele. Mas, por favor, não me traiam. Outra vez. Estarei atento. Ao mínimo deslize revolto-me. E não responderei por mim.

Este texto pode parecer incoerente, incompleto e inseguro. Mas é o resultado de desilusões políticas.

4 comentários:

Anónimo disse...

Assino de cruz.
O PS perdeu com a campanha eleitoral. Antes desta se iniciar, muitos portugueses previam votar no PS precisamente pelos mesmos motivos que tu, Tiago. Não por mérito de um homem ou de um programa mas por demérito do(s) outro(s). O País cansou-se de Santana e das sucessivas traições de que falas. (Antes de Santana já estava cansado de Barroso, de Portas e de Ferreira Leite. Só um volte-face orçamental lhes permitiria um rejuvenescimento de imagem. Santana, como depois visto, não foi um bom cosmético. E só retomou o desespero.)
Com a dissolução, o PS tinha-os no papo. Veio a campanha. O PS não explicou, não se distanciou, não abanou. Tudo discutido pela rama e sem compromissos (ficaram apenas os "objectivos"). Contam-se os votos, e não as ideias, que têm maior relevo nos dircursos dos pequenos partidos.
Mas voto no PS porque sou um socialista. Nisso distanciamo-nos, Tiago. Não gosto do Robot-Sócrates mas sempre preferi o ideário socialista (português) ao ideário social-democrata (português). Falo de ideário e não de promessas ou programas. Porque uma coisa são as bases programáticas escritas e anunciadas, outra coisa é a base ideológica que os partidos têm mas que não ousam assumir para não perderem os votos indecisos e centrais. Prefiro o "detrás da máscara" do PS.

Anónimo disse...

Estás perdido!

Estás como o país, perdido. Estás à deriva de convicções ideológicas. Estás confuso, não sabes o que dizes nem o que escreves. Tens potencial mas, como a maior parte dos que têm, não queres ou não podes explaná-lo.

Pior do que não saber como nos definimos politicamente é sabê-lo de forma consciente; como TU! Como o cego...

Não percas mais tempo em Blogges inconsequentes, em tertúlias monologas que pouco acrescentam. Perde tempo a encontrar-te politica e pessoalmente. Define rumos, traça caminhos, planeia batalhas e talvez, se acreditares, possas fazer a diferença.

Boa Sorte e bons votos!!!

Anónimo disse...

o voto é anónimo, mas comentários anónimos e tão instigadores como este não mereciam ser. quem me está a ajudar, afinal?

tiago

Anónimo disse...

What a great site »