domingo, dezembro 26, 2004

Poética do quotidiano (especial Natal) - IX



O Natal do Pedro Efe, do O meu lado esquerdo

Versão Quotidianos Passados

"Era uma vez...

Era uma vez um menino que não acreditava no pai natal. Primeiro, um apartamento numa caixa de fósforos suburbana não possuia chaminé, logo, as prendas que apareciam sorrateiramente junto ao pinheiro não podiam ter sido deixadas por um velhote gordo, carregando um saco enorme, que 'entrou pela chaminé'; segundo, renas não voam. Estão no jardim zoológico fechadas atrás de cercas e de certeza voariam, se conseguissem, de lá para fora, para um sítio bem mais agradável; terceiro, a maior parte das prendas era embrulhada lá em casa à última da hora pelas mãezinhas... E quarto, se nem pai, quanto mais pai natal. Criança não sabe o que é metáfora. As coisas são o que são e o que se acredita ser. O que não convence, decididamente não é. Afinal, é bem mais fácil acreditar na 'Leopoldina'..."

Versão Quotidiano de Hoje

"Afinal, o que é o 'Natal'...?

1- Campanhas, na Tv e rádio, de solidariedade social (aparentemente, só nesta altura existem tantas crianças abandonadas, maltratadas, abusadas e
carentes!)
2- Luzinhas espalhadas pelas janelas, varandas e varandins, árvores e estátuas e monumentos (acho lindo, porquê restringir o seu uso a uma época
específica do ano?!)
3- Espectáculos de horas para os pobres desgraçados nos hospitais e galas que tal, com artistas de talentos dúbios (Ena, ena! o resto do ano que se
lixem, que se definhem!)
4- Compras, compras e mais compras, de listas e listinhas em riste, não esquecendo o melhor amigo e o mais imbecil dos colegas de trabalho (parece
que o "saco do pai natal" não conhece hipocrisia, são todos muito amigos, é o tal do "espírito"...)
5- Jantares, jantares e mais jantares de grupinho (o natal é promíscuo, decididamente!)
6- Doces! Ai, as filhoses (de cenoura) da minha avó... porquê só em Dezembro, vózinha?! Davam uma sobremesa excelente, com uma bola de gelado de
nata e um molho de manga, em qualquer altura do ano...)
O Natal é quando um homem quiser, certo? Porquê querer tão pouco...?!"