Diz o Público que a TV Cabo vai retirar o canal ARTE do pacote básico, por falta de nicho de mercado e fracas audiências. Passam-no, por isso, para o serviço digital e codificado. Atendendo ao facto da TV Cabo ser o único operador em Portugal o caso é denunciador da falta de consideração que a empresa tem pela diversidade de públicos, apostando antes na rentabilização imediata do investimento feito.
O canal ARTE é pouco visto e, no entanto, permite a difusão da cultura não como epifenómeno mas enquanto garante de um certo sentido de vida com qualidade. Veja-se o recente exemplo do Festival Temps des Images que encheu o CCB e outros espaços com propostas bem mais interessantes que grande parte da programação cultural anual da cidade de Lisboa. Outra coisa que o canal ARTE faz regularmente é o apoio ao cinema (do mais comercial ao intelectual)... mas sobretudo a existência de um canal como o ARTE permite uma janela para respirar no marasmo cultural que é a oferta televisiva.
A cultura não tem que se medir em audiências nem pode ser comparada com emissões futebolísticas ou talk-shows italianos. Vai quem quer e porque quer. É a obrigação de uma empresa do Estado propor a alternativa. Para que se evite o atrofiamento cultural das gentes.
Felizmente no seu lugar, a TV Cabo pretende apresentar um de dois canais em colaboração com a TVI [agora que Marcelo se calou]: um de negócios ou um de música.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Eu estou sempre a dizer que o papel do Estado no que respeita ao cinema (e à televisão) não é garantir apoios para aquilo que o "estado das coisas" permite que exista através do seu próprio mecanismo -- i.e. através de uma lógica de mercado, de audiências etc. -- mas sim garantir que o equilibrio qualitativo de dada civilização se mantenha, garantindo apoios para aquilo que o "estado das coisas" não consegue manter por si mesmo. Neste caso, projectos alternativos, experimentais, avant-garde, de alta-cultura, intelectuais, extravagantes, selectos, especializados, científicos, etc... em resumo: os outros [que não conseguem garantir existência pela lógica de mercado].
Isto porque eu pessoalmente acho que uma dada civilização tem de contemplar todos, e não apenas os "normalizados", para que respire com saúde. Bom, mas isto seriam considerações para outra altura.
Enviar um comentário