sábado, outubro 30, 2004

Sequestros emocionais
(a opinião da Dra. Maria Rena)

Ao que parece abri as hostilidades no novo serviço público do Renas e Veados, já devidamente elogiado neste blog.
Segue a pergunta que fiz:

Cara Maria Rena (ou deverá ser Dra.????)

Gostava de te perguntar qual a tua opinião acerca dos sequestros emocionais. Tendo a cair constantemente nessas situações e sinceramente sinto-me cansado. Gostaria de efectivar toda a teoria que tenho, mas não me faço cumprir e eis-me novamente sequestrado emocionalmente. E desta vez nem vale a pena. Até onde se pode ser masoquista e o que se pode esperar de um sequestrador?

Aguardo ansioso.

[e depois assinava, coisa que o Renas não indica, apesar da minha autorização para fazê-lo]

E a resposta que recebi:

Caro leitor,

Agradeço a sua pergunta e congratulo-o por ser o estreante do nosso Consultório da Maria no Renas e Veados.

Refere-se várias vezes ao longo da sua questão a sequestros emocionais. Deverei assumir que se refere a situações em que se sente emocionalmente envolvido com alguém com grande intensidade ao ponto de desconhecer a forma de mudar a natureza ou força dessa relação?

A frase que revela a questão é a sua última pergunta: Até onde se pode ser masoquista e o que se pode esperar de um sequestrador? A sua pergunta assume que há outra pessoa que o sequestra emocionalmente, melhor, há outras pessoas, uma vez que a situação se repete. Imagine que passeia num jardim onde encontra três pessoas. Uma dela passeia, sente-se sozinha e olha as outras intensamente, com um olhar fulminante na busca de uma resposta. Outra, observa o olhar "sequestrador" da primeira e decide dar mais atenção às últimas flores de Outono. A terceira pessoa decide prestar atenção ao olhar fulminante e decide investir naquela pessoa que não conhece, mas que responde às suas necessidades de receber e oferecer afecto. A terceira pessoa decide ser sequestrada enquanto que a segunda pessoa rejeita o envolvimento.

Quero dizer que nós avançamos na vida de acordo com as nossas necessidades. Não são os outros que nos sequestram, nós tomamos decisões sobre as pessoas com quem nos envolvemos, sobre a atenção que damos e a que deixamos que nos ofereçam. Se o leitor se sente sequestrado, pedia-lhe que se questionasse sobre a forma como aí chegou. Qual a sua responsabilidade sobre esse sentimento? Qual a responsabilidade de outras pessoas? O que se repetiu nas situações em que encontrou os sequestros? O que poderia ter acontecido diferente? O que o impede de fazer diferente?

A sua questão relembra-me uma frase famosa de Saint-Exupéry, "És responsável por tudo aquilo que cativas." Não posso discordar mais desta afirmação, uma vez que não reflecte a realidade e que desresponsabiliza quem sente. Nós somos os responsáveis pelos nossos sentimentos, nós apenas. Temos sempre a oportunidade para a qualquer momento fazer um esforço e decidir mudar o que sentimos.

Muitas felicidades!

Maria Rena


Eu, obviamente, já agradeci a resposta. Ainda assim, fico com dúvidas (mas que não irei abordar com a Dra., já que não é intenção monopolizar o gabinete de atendimento):

- será que tudo depende, de facto, de nós? Ou há coisas que nos ultrapassam? E se, mesmo com a repetição, acreditarmos que é uma coisa nova e voltarmos à sensação de sequestrados? E podemos, de facto, ser divididos em sequestradores e sequestrados?





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