domingo, outubro 10, 2004

poética do quotidiano (XXV)

Com o país imerso nas nomeações da Quinta das Celebridades, não há como um olhar ácido sobre as gerações vindouras. Aquelas que andam agora a ser formatadas. É por isso que o prémio hoje vai para o Jorge Mourinha que escreve o Roda Livre. E diz assim, em directo do Pavilhão Atlântico, na segunda noite do concerto dos Xutos e Pontapés:

POLAROID XUTOS

Um contingente de adolescentes betas (futuras tias), mascando pastilha elástica, cheirando a perfume caro, invadem o meu espaço vital (ler: as cadeiras vazias na fila da frente e ao meu lado), uma ou duas canções depois do concerto ter começado. Uma delas pergunta-me "desculpe, sabe onde é que se bebe aqui?" e respondo-lhe que não. Durante o concerto, dançam muito, gritam como se estivessem a ver qualquer ídolo adolescente (Britney Spears, Justin Timberlake), e quando não reconhecem as canções sacam do telemóvel e desatam a trocar mensagens. Duas delas escolhem um momento mais calmo para refazerem impossivelmente longamente o rabo de cavalo. Quando o concerto embarca na fase final dançam freneticamente na fila, de braços no ar, indiferentes a pisarem ou empurrarem quem está ao seu lado.