Para que tu me oiças...
Para que tu me oiças
As minhas palavras
Adelgaçam-se por vezes
Como o rasto das gaivotas sobre as praias.
Colar, guizo ébrio
Para as tuas mãos suaves como as uvas.
E vejo-as tão longe, as minhas palavras.
Mais que minhas são tuas.
Vão trepando pela minha velha dor como a hera.
Elas trepam assim pelas paredes húmidas.
Tu é que és a culpada deste jogo sangrento.
Elas vão a fugir do meu escuro refúgio.
Tu enches tudo, amada, enches tudo.
Antes de ti povoaram a solidão que ocupas,
E estão habituadas mais que tu à minha tristeza.
Agora quero que digam o que eu quero dizer-te
Para que tu me ouças como quero que me ouças.
O vento da angústia ainda costuma arrastá-las.
Furacões de sonhos ainda por vezes as derrubam.
Tu escutas outras vozes na minha voz dorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
Ama-me, companheira. Não me abandones. Segue-me.
Segue-me, companheira, nessa onda de angústia.
Mas vão-se tingindo com o teu amor as minhas palavras.
Ocupas tudo, amada, ocupas tudo.
Vou fazendo de todas um colar infinito
Para as tuas brancas mãos, suaves como as uvas.
Pablo Neruda
Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada
Tradução Fernando Assis Pacheco
Publicações Dom Quixote.
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