- Tu não me conheces!
Quando alguém nos atira no meio de um discurso inconsequente e, para nós, sem o mínimo de seriedade com essa frase lapidar tu não me conheces, começamos a equacionar se, efectivamente, será verdade. Conheceremos nós a pessoa com quem estamos?
Se, de facto, nos apaixonamos por alguém que desconhecemos - e, por consequência, queremos passar a conhecer melhor -, ao longo da relação há aproximações e recuos - poderiamos chamar-lhes "testes" -, até ao ponto invisível em que a relação se altera e a outra pessoa começa a olhar para nós, não como alguém que quis conhecer, mas como alguém que deixou de conhecer. Se o processo é complexo, não o é menos se deixarmos que a forma de conhecermos a outra pessoa parta dela, ou seja, que seja ela a dar-nos as pistas para melhor a entendermos. É claro que não há fórmulas mágicas e muito menos frases certas, tempos certos, momentos adequados. Tudo se passa no misterioso mundo do "erro por tentativa", como lhe chamam os cientistas. Uma relação é a procura de uma fórmula de entendimento que permita levar a vida de forma menos dolorosa. É o velho ditado chinês de "um dia de sol é um dia menos infeliz".
Mas se, efectivamente, nos queremos dar a conhecer a outra pessoa, não lhe podemos responder com um seco e irónico tu não me conheces, como se a pessoa fosse totalmente responsável por isso. Conhece-se quem se dá a conhecer, não quem se mostra por provocação. As pessoas, de uma maneira geral, mostram-se de maneiras diferentes. É por isso que ninguém tem a mesma visão que o vizinho em relação a alguém comum. Mas a pessoa que nós escolhemos, à partida, será a pessoa para quem nós nos queremos mostrar por inteiro, sem máscaras e jogos. Será a pessoa a quem nós nunca diremos tu não me conheces , porque efectivamente desejamos que essa seja a pessoa que melhor nos conhece. Aquela com quem não é preciso falar para que nos percebam. Em última instância, será a pessoa que nós acreditamos conhecer melhor.
Dessa forma, tu não me conheces pode ter duas leituras: 1) não me conheces porque não me percebes por mais que eu me revolva e não vale a pena o esforço; 2) isto é um estímulo para me veres por inteiro. Normalmente, tu não me conheces acaba com o espanto de quem ouviu a frase e não quis acreditar. Pouco depois as relações tendem a caminhar para um silêncio cada vez mais escuro.
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1 comentário:
Barthes............................
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