O Estado das coisas
onde se desespera com a oportunidade de escolha
Ir ao supermercado é, como se sabe, uma utopia. Nunca se vai só para comprar o que é essencial. Traz-se sempre mais qualquer coisa. O que quer que seja. Mostrem-me um ser humano que vá ao supermercado e saia somente com aquilo que o levou lá, e eu voto nele para Presidente da República.
Bom. Problema: escolher detergente e amaciador para a roupa. A tarefa podia ser simples, já que o objectivo é, ele mesmo simples. Mas o facto de hever a possibilidade de escolha, desequilibra essa simplicidade. Mesmo que a marca já esteja definida (conselho: as marcas de supermercado, ainda que mais baratas, não produzem o mesmo efeito e a roupa fica sempre a cheirar a suor), resta o tipo de detergente que se quer levar.
Tinha decidido levar Comfort, já que era o que se "gastava" em casa de mamãe, e nisto não há como as mulheres para decidir o que trazer, mas desde a última vez que comprei detergente - agora essa tarefa está, ingratamente pelo que pude perceber, entregue a outras instâncias - que o Comfort deixou de ser puro e simples Comfort para passar a ser com cheiros por regiões do mundo: Japão (com cheiro a cereja), Inglaterra (a cheirar a campo), Islândia (dizem que a saber - sim, a saber porque me saltou para a boca - a água gelada), Mediterrâneo (água quente -suponho!- e limão - mas porque é que não lhe chamam chá?), Pacífico (mais motivos marinhos) e Ilhas Gregas (cheirou-me a peixe podre, enfim...). Meu Deus, porque me abandonaste?! O que escolher? Acho que trouxe um que devia cheirar a laranja selvagem mas parece-me cheirar antes a concentrado industrial.
Escusado será dizer que demorei mais tempo nessa zona que qualquer pessoa, o que não só me deu vontade de trazer outras coisas (e trouxe!), como ser, também, alvo da chacota de uma série de mulheres que, despachadamente, sabiam ao que iam. É que elas podem achar muita graça a homens sozinhos no supermercado, mas não imaginam o que se sofre.
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