domingo, abril 11, 2004

Em Abril, raivas mil

Há medida que os dias de revolução se aproximam (não é que nos outros dias o mesmo não aconteça), as manifestações de neo-saudosismo acentuam-se. Ele é o elogio à qualidade de vida do ancient régime, esses tempos em que se fazia a apologia ao português nobre, respeitoso da sua terra, orgulhoso do seu país, conservador da moral, dos costumes, das promessas de dias melhores que nunca viriam, mas pelo menos não se deixavam de querer.

Esta turba de gente, leitora compulsiva do 24 horas e do Correio da Manhã, que vive azeda com tudo, seja a direita ou a esquerda, o árbitro ou o seleccionador, a mulher ou o raio do neto que não se cala com a caderenta da bola, não quer sequer saber que ao domingo tudo é possível. O discurso é falacioso, contraditório, tendencial e extremista. (Ai se eu mandasse... é a expressão da ordem)

Ao encherem de migalhas e perdigotos os outros habitantes do café, do autocarro, da fila para o cinema, calcinam também toda e qualquer esperança de um domingo soalheiro. Derrotados e confusos (terão eles razão? seremos nós, de facto, utópicos, vulgo, parvos?) voltamos para casa onde nada nos espera a não ser a manhã cinzenta de segunda feira.

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