terça-feira, março 16, 2004

Resposta certa

Haverá alguém que acredite que as perguntas formuladas pelo jornal PÙBLICO todas as semanas fazem algum sentido? Permitem alguma leitura? Esclarecem uma posição?

A pergunta feita esta semana, sobre a concordância na adopção por casais homosseuxias de crianças, é tão falaciosa quanto os discursos ouvidos pró e contra a questão. Como se se pudesse dizer sim ou não da mesma forma que se escolhe outra marca de pasta de dentes só porque a habitual se esgotou. Nem isso - a escolha da pasta - é tão simples. Se me colocarem a questão assim: Sim ou Não, eu digo Não. Como diria não se a pergunta fosse: concorda com a adopção de crianças por casais heterossexuais?

Porque o que está em causa nesta questão - o que a mim me parece subjacente na pergunta, é um avaliar da homofobia na sociedade portuguesa. Obviamente que a resposta é não se a educação sexual nas escolas não fala das diversas "variantes" sexuais; se as vantagens legais não permitem igualdade; se ainda ninguém explicou que uma criança precisa é de valores, noções de família, lar, tranquilidade, cidadania... e esses não estão somente presentes numa relação heterossexual. Mas isso, como outros tantos milhares de exemplos, já toda a gente viu e mais ainda aqui na blogosfera em que falamos de/para/com uma "elite".

Um amplo debate, sério, rigoroso, explicativo, concreto, exemplificativo é o caminho a seguir e não perguntas de pacotilha. Essas só alimentam fantasmas, preconceitos e manias. Ouço já as vozes: oh, mas essas questões alertam, mas isto e aquilo... Sim, eu sei. Mas o que eu recebo no meu e-mail são mailling letters a anunciar o questionário e a dizer coisas tão absurdas como: se és gay defende os teus direitos; luta contra a discriminação; mesmo que não concordes, não contribuas para a descriminação.

Caramba!!

Mais do que ninguém, as associações GLBT deviam saber que os sentidos e os sentimentos egoístas contam aqui muito pouco. Querem ou não contribuir para resgatar as crianças das instituições onde, caso raras excepções, não se irão tornar adultos exemplares? Não é dos direitos da criança que estamos a falar, em primeiro lugar? E sobretudo que, face a esses direitos, eles são transmissíveis independentemente da orientação sexual? Dê-se a volta ás coisas, posicionem-se as opiniões radicais no seu lugar, expliquem-se os intuitos e perguntem depois. Prove-se que o processo de adopção é um processo de resgate; de salvação. Aqui, a dádiva vem primeiro que o egoísmo. Deve vir.

E isto vale para gays e heteros.

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