Antes quebrar que torcer
NOTA: Este é o último fim de semana e a derradeira oportunidade para se ver César Anticristo, a peça de Alfred Jarry que Ricardo Aibéo encenou. No Teatro do Bairro Alto, Ricardo Aibéo transporta-nos para um outro universo, entre o onírico e o terror, em que os nossos sentidos devem estar o mais atentos possível, correndo o risco de, em caso de tal não acontecer, poder ser fatal. Com uma energia fora de série, nada dependente do público - ou da falta dele - o conjunto de actores reage a estímulos que o próprio texto transmite, contorcendo-os e ganhando-lhes terreno.
O teatro de Alfred Jarry, de cujo título mais frequente é Rei Ubu, está na senda do surrealismo, sem o ser e no expressionismo sem o assumir. É toda uma outra realidade que pede disponiblidade por parte de quem vê, mas não condescendência. Não é esse o caminho e muito menos essa a intenção do teatro que Aibéo propõe. Depois de Hamlet, de Luis Buñuel (2000) e Duas farsas conjugais, Aibéo volta ao que não é fácil, imediato, reconhecível e objectivo. Antes quebrar que torcer parece ser o lema de um teatro que Ricardo Aibéo insiste em apresentar. E ainda bem que assim o é.
Assente numa corrente que a muitos poderá desagradar, seja pelo estilo ou pela forma, não pode, no entanto, deixar de se reconhecer o brilhante trabalho de perseverança em que Aibéo trabalha.
Se este comentário tem o valor que tem, não percam. Só até domingo.
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