quarta-feira, janeiro 14, 2004

Relógios de Lisboa (IV)

- o da estação do Rossio

Quem conseguir atravessar a fachada da estação do Rossio e não sentir os olhos em ferida, irá encontrar um relógio encardido mas funcional. Fica ali, no canto do olho, ao subir-se a rua e entrar nos Restauradores. Postal ilustrado nos anos 50, a estação do Rossio sobrevive desgraçada, sem que dela se diga o que quer que seja. às vezes só se diz mal. Da fachada, da cor, das marcas, das pessoas, do que representa. E o que representa é mais do que o que indica.

Construída quando o Estado decidiu rasgar Lisboa com uma linha de comboio, a actual estação do Rossio fez demolir o maior espaço de recreios da Lisboa da viragem do século XIX. O coliseu Whitonney, que ocupava o espaço que vai da estação até ao Palácio Foz era o maior da península ibérica e recebia de tudo, desde circo a esposições de automóveis. Foi demolido. Em compensação construiu-se o Coliseu dos Recreios, umas ruas ao lado.

O relógio da estação do Rossio marca o tempo, mas um tempo que já está decorado. Lá dentro há uns electrónicos, que marcam logo a hora de partida do próximo comboio. Este relógio, que espreita o Largo do Rossio por um canto fez-se discreto com o tempo. Ao contrário da fachada que o ostenta. Que fará D. Sebastião debaixo do relógio?

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