quinta-feira, novembro 06, 2003

Kill Bill

Fui ver o último de Tarantino. Fui vê-lo desconfiado, suspeitoso, céptico, descrente. E desviei-me de cada golpe como se me fossem dirigidos.

Confesso, desde já, que não gosto do Tarantino. Como não gosto do Spielberg, do Lars von Trier, do James Cameron ou do Jean Pierre Jeunet. E, no entanto, não deixo de os ver. São uns virtuosos. E como eu não resisto ao charme da coisa, cedo, contrariado e rezingão. E foi por isso que fui ver o Kill Bill. Por isso e pela Uma Thurman, que desde que fez de Vénus nunca mais me saiu da memória. Oscar com ela imediatamente. O mundo inteiro aos seus pés. Maldito Ethan Hawke que não só lhe fez um filho como ainda a deixou. Desgraçado. Mas o Kill Bill... pois...

Baralhar e voltar a dar, é o que é. Do Tarantino incomoda-me a citação. Há que saber citar e não mostrar que se conhece. Ora ele tanto confunde uma coisa com outra como acha que o espectador é parvo. Eu não sou, mas a mim ninguém me perguntou nada. Confesso, no entanto, que o Kill Bill me fascinou. Confesso, também, que tem tudo a ver com o espírito com que fui ver o filme. Apetecia-me ver porrada e sangue, sem explicações filosóficas, e em dia de estreia do Matrix, dei-lhes um murro no estômago e acreditei no que o Tarantino me prometia. E não é que nem parece o mesmo de Pulp Fiction ou Jackie Brown? Aliás, a única forma de relacionar os filmes dele é porque se sabe que ele é incapaz de se fazer cumprir ao plano que estabeleceu. Tarantino não tem unhas para a guitarra que quer tocar. Salva-o Santa Uma que carrega o filme com o seu ar negligé e à qual nós só desejamos sorte, muita sorte.

A história deste filme é quase um trailler de um que há de vir. A Noiva é deixada em coma no dia do casamento e quando acorda (mas porque raio tem a rapariga de acordar sempre daquela maneira, já no Pulp Fiction nos saltava no colo – e eu da cadeira sem saber o que fazer com tal oferta) vai procurar vingar-se dos que a maltrataram. Daí ao fim do filme vão duas horas de murros, espadas e sangue, muito sangue a jorrar de braços, pernas, cabeças. Vermelho, muito vermelho e muito irreal. Tão irreal que se acredita.

Quem não quiser esperar o melhor é não ir ver este filme. Porque, na verdade, nada acontece a não ser aproximar-se do inicio do volume dois. Porrada e muita porrada. Tanta porrada que leva Uma Thurman. E que bem que ela leva porrada. Sempre pronta a levar mais, como uma deusa que se preze. Enfim... rendido, saí do filme, limpei-me do sangue que me caía do corpo e hesitei entre ser a espada que ela carrega ou o corpo que ela mata. Para Uma, duas. Dois, neste caso. Um filme que é uma personagem. Ela que é só Uma. A única. A Noiva. Morra Bill morra pim.

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