Ao telefone
Talvez seja um disparate filosofar sobre o quotidiano, mas pergunto-me porque é que reagimos ao telefone como se tivessemos a pessoa à frente.
Eu, por exemplo, levanto-me da cadeira, afasto-me o mais estupidamente possível dos papéis em que tenho as informações precisas e nem sequer levo caneta para apontar, sei lá, na parede ou nos cortinados. Depois passeio-me pelo escritório como se estivesse a dar palestras. Se quem está do outro lado do telefone imaginasse a agitação com que falo, nunca me confiaria nada.
Mas, surpreendentemente, do outro lado, a agitação não é menor. E, no entanto, quando nos encontramos com alguém ao vivo, a tensão toma conta de nós, não sabemos onde por as mãos, o corpo não responde. Ou melhor, responde pela sua apreensão.
Estaremos nós condenados a expressar-nos melhor na escuridão?
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