segunda-feira, outubro 27, 2003

Leituras

O Expresso trazia, no sábado, na revista uma reportagem chamada "Pais & Gays", assinada pela incansável Felícia Cabrita. O texto é digno de antologia e tentarei colocar aqui algumas pérolas. Digno de um argumento de telenovela da TVI mas feita no México (se é que tal é possível).

Ora tratava a reportagem da história de um casal homossexual que tinha um filho ao seu encargo. O filho era de um dos elementos do casal que, à revelia do outro (que era seu patrão num show de travestis, do qual o pai da criança tomava parte) e tinha sido concebido juntamento com uma bailarina que acabara morta numa vala em Madrid. O pai do míudo tinha sida, o casal já estava separado, o míudo acha que é um disparate a homossexualidade ser alvo de preconceito e todos dão a cara. A mim, a vários níveis a reportagem enojou-me. Pela desfaçatez de nos tentarem impingir a história de desgraçadinhos que todos viviam; por acharem que lá por darem a cara vão fazer alguma coisa pelo reconhecimento dos homossexuais; por perpetuar a ideia de que todos os gays querem ser mulheres; por não proteger a identidade do míudo; por tornar irrelevante os valores tradicionais e essenciais que qualquer criança deve ter, independentemente de tudo; por variadas razões que põem em causa uma série de questões demasiado polémicas e sensíveis.

Em conclusão, a reportagem de Felícia Cabrita não passa de um exercício de mau gosto e voyeurismo em que ninguém sai a ganhar. Nem os leitores, nem o míudo, nem o casal gay. Há de vir o tempo em que a sexualidade será só um pormenor na definição de uma pessoa e não o seu bilhete de identidade.

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