Heróis de estimação
A propósito da nova colecção do PÚBLICO, devo confessar que nunca fui grande apreciador do Tintim. Bem sei que não cresci com ele, da mesma forma que gerações anteriores o fizeram e que por isso não posso sentir como meu algo que é o produto de uma época, com características próprias e significados múltiplos.
Mas também não cresci com os Flintstones e desses gosto. Cresci com o Mickey e não gosto dele, acho-o arrogante, convencido, esperto demais, sempre confiante, como se escondesse mais do que aquilo que sabe. Prefiro o Donald e toda a família de patos, Maga Patalógica incluída. Mas gostar da família do Donald não me faz gostar assim tanto dos sobrinhos dele que armados em bons escuteiros sempre se me afiguraram uma espécie de Deus ex-machina, ainda antes de eu saber o que isso era.
Não gosto do Tintim porque não me convence. Vive preso numa juventude algo ambígua, nesse limbo entre o pragmatismo adolescente e a sapiência dos adultos. Sempre jovem, sempre esperto, sempre belo... sempre distante. Viajante solitário por viajante solitário sempre prefiro o Petzi que era um urso que vivia num barco e que voltava a casa da mãe só para comer panquecas. Gostava tanto do urso Petzi que até tive um cão com esse nome. Mas gostava também do Sport Billy, esse sim um rapaz do seu tempo que tinha um saco donde tirava tudo, como fazem os míudos mais espertos que os outros, mas não tão chatos como o Mickey ou o Tintim.
Mas o que eu mais gostava mesmo era do Asterix. Ainda hoje gosto. No outro dia sentei-me na FNAC do Chiado a ler um livro do Asterix. Asterix nos Jogos Olímpicos. E estava indignado porque o meu herói ia usar a poção mágica para vencer os romanos e os gregos. Ia fazer batota e o Asterix não pode fazer batota. O Asterix é bom. Mas lá arranjaram um esquema, pouco honesto no entanto, mas que salva a cara de todos e faz pouco dos romanos, como se espera numa aventura do pequeno gaulês.
Se calhar gosto do Asterix e do Petzi, do Sport Billy, do Donald e dos Flintstones porque são heróis normais, que não se armam em chico-espertos como o Mickey e o Tintim, que se fingem ingénuos. Quis sempre que o Mancha Negra ganhasse, nunca percebi o que é a Minnie via no Mickey e acho que o Pateta era mal tratado. Como o meu cão se chamava Petzi nunca dei muita importância ao Pluto, até porque preferia o Tico e o Teco.
Resumindo, interessam-me mais as implicações históricas e socio-políticas das histórias do Tintim que o herói em si mesmo. Lembro-me de ter lido, algures, que ele era um tanto fascista, o que não abona nada quando já não se gosta de alguém. E depois, quem se deixa ultrapassar por um cão – bendito Ideafix que não se intromete onde não é chamado – e se faz acompanhar mais por tipos que por personagens não pode ser muito convincente. Ao menos o Obélix tem personalidade, a bruxa do Sport Billy é mesmo má, o Barney não quer substituir o Fred e o Gastão mete mesmo raiva.
Última menção para o He-Man, herói maior de toda a infância... by the power of She-Ra
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