Poética do quotidiano: especial coming out (II)
Continuam a chegar, a escassas gotas, as participações na iniciativa Poética do quotidiano: especial coming out. As regras de participação podem ser lidas aqui. O prazo para recepção é o que quiserem. Depois do Fishkid, é a vez da Chandra, não-blogger e amiga.
Primeira palavra
Penso, e como dói pensar. Sinto, e não quero ser responsável pelas minhas sensações. Como quero deixar todo um mundo de lado, como quero passar descontraidamente pelo meio da multidão e não me importar, e não pensar. Um passar passando, nem sequer relembrando o passado, nem experimentando um futuro. Um passar enrolado entre passos incertos, entre certezas já feitas e entre o desfazer de todos os conceitos estabelecidos.
Dói, o nó que tenho no estômago, e a violência com que se propaga em choques de calafrios pelo resto do corpo. E já estou saturada dos ses, de pensarem que há sentimentos que são defeitos, doenças. Não, não tenho nada contagioso que vá contaminar as almas de quem pensa que há coisas que só acontecem aos outros. Sim, sou a nódoa que vai incomodar a inocuidade do teu ser. Vou descobrir que és branco sujo, envolvida em invólucros de ignorância e estupidez. Que usas palas para limitar a tua visão, e não te importas, que até impões a ti mesma essa condição. E poderia perguntar-me porquê, mas agora não quero saber.
Sofro, que outra forma haveria de sentir esta sensação desnecessária. Já tenho um padrão muito bem definido do que sou, do que não quero sentir cada vez que uma língua viperina tenta atingir a fragilidade do meu mundo.
Rio, em correntes de leveza que levar-me-ão por um caminho melhor. Perdeste-me, porque não quiseste acreditar que há diferenças. Em tons de interrogatório querias que eu expusesse tudo, e eu recolhi nessa altura a minha confiança. Pensas que menti. Não, só não acreditei em ti.
Chandra
os textos publicados são da responsabilidade dos autores
Continuam a chegar, a escassas gotas, as participações na iniciativa Poética do quotidiano: especial coming out. As regras de participação podem ser lidas aqui. O prazo para recepção é o que quiserem. Depois do Fishkid, é a vez da Chandra, não-blogger e amiga.
Primeira palavra
Penso, e como dói pensar. Sinto, e não quero ser responsável pelas minhas sensações. Como quero deixar todo um mundo de lado, como quero passar descontraidamente pelo meio da multidão e não me importar, e não pensar. Um passar passando, nem sequer relembrando o passado, nem experimentando um futuro. Um passar enrolado entre passos incertos, entre certezas já feitas e entre o desfazer de todos os conceitos estabelecidos.
Dói, o nó que tenho no estômago, e a violência com que se propaga em choques de calafrios pelo resto do corpo. E já estou saturada dos ses, de pensarem que há sentimentos que são defeitos, doenças. Não, não tenho nada contagioso que vá contaminar as almas de quem pensa que há coisas que só acontecem aos outros. Sim, sou a nódoa que vai incomodar a inocuidade do teu ser. Vou descobrir que és branco sujo, envolvida em invólucros de ignorância e estupidez. Que usas palas para limitar a tua visão, e não te importas, que até impões a ti mesma essa condição. E poderia perguntar-me porquê, mas agora não quero saber.
Sofro, que outra forma haveria de sentir esta sensação desnecessária. Já tenho um padrão muito bem definido do que sou, do que não quero sentir cada vez que uma língua viperina tenta atingir a fragilidade do meu mundo.
Rio, em correntes de leveza que levar-me-ão por um caminho melhor. Perdeste-me, porque não quiseste acreditar que há diferenças. Em tons de interrogatório querias que eu expusesse tudo, e eu recolhi nessa altura a minha confiança. Pensas que menti. Não, só não acreditei em ti.
Chandra
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