sábado, março 19, 2005

Em cena este fim de semana (I)

ACTOR
espectáculo de rogério nuno costa

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Reposição no âmbito da Semana da Juventude de Lisboa
HOSPITAL MIGUEL BOMBARDA
18, 19 e 20 de março de 2005
22:00 h


'ACTOR' é um espectáculo de Rogério Nuno Costa, com a colaboração das seguintes pessoas (por ordem alfabética): Alaíde Costa (frente de sala e relações públicas), Ana Calhau (design gráfico), Carlos Morgado/Micro Audio Waves (som), José Álvaro (luz), José Luís Neves (fotografia de cena), Luísa Casella (fotografia), Marina Nabais (residência de movimento, assistência geral ao espectáculo, operação de vídeo), Miguel Bonneville (operação de som), Miguel Pereira (colaboração artística), F. Ribeiro (cenografia, operação de luz), Rui Ribeiro (vídeo), Tânia Franco (figurino).

Sinopse comummente apresentada: "Em Junho de 1978 nasci. Em 1983 quis ser cantor, em 1985 médico pediatra, em 1990 jornalista-repórter-de-guerra. Em Setembro de 1999, inscrevi-me na Repartição de Finanças do Restelo, bairro fiscal n.º 7, em Lisboa, como 'artista de teatro'. Desde então, de cada vez que me perguntam 'o que fazes?', respondo 'sou actor'. Passados 5 anos, a crise existencial (...)". O resto não interessa. Nove meses depois, apetece-me dizer que o tempo dá cabo de muita coisa. E ainda bem.

Assim com'ássim, este espectáculo continua a ser falhado, em todas as suas dimensões discursivas e noutras dimensões interessantes que os espectáculos têm também. E eu vivo muito bem com isso. Não me sinto nem um bocadinho desconsolado ou deprimido; não estou a atravessar nenhuma crise artística; não me apetece dizer nas entrevistas que sou um criador insatisfeito; não sinto propriamente que esteja bloqueadinho, estagnadinho, sufocadinho, coitadinho ou desgraçadinho; nem me apetece fazer retiros espirituais ou votos de silêncio a ver se a coisa da próxima se dá melhor.

Mas continuo a achar que é obra: um actor dançar sem ter passado pela Escola Superior. E continuo a dizer que gostava muito mais de ser um bailarino que representa sem ter passado pela Lee Strasberg. Como não sou, este espectáculo é um espectáculo triste. E eu fico muito contentinho e satisfeitinho por saber que ele é triste. Mesmo!

Entretanto, posso aproveitar o ensejo (este) para dizer algumas palavras que entretanto eliminei do espectáculo. A saber: a) I'm not a queer performer!; b) Danço, logo sei!; c) Que se foda o movimento contemporâneo, eu quero é dançar!. E sabem que mais? Que se foda mesmo o filho da puta do cabrão do movimento contemporâneo e outros movimentos adjacentes, paralelos, transversais e para-disciplinares! Apetece-me mesmo muito dançar, foda-se! E dizer muitos palavrões, foda-se! À boa maneira saudavelzinha e bimbalhonazinha e boçalzinha e retardadazinha lá da minha terrinha pequenininha. Foda-sezinho!, percebem? Foda-sezinho!!!

Eu quero é dançar! Muito! E ser um artista muito feliz! Muitozinho felicíssimozinho! Felicissimamente zinho! Zinho! Zinho! Zinhôôôôôôôôôôôôôôô……...........!

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O espectáculo estreou na BlackBox do Centro Cultural de Belém em Junho de 2004; foi reposto na Casa de Teatro de Sintra (Chão de Oliva) no mês seguinte. Depois de Lisboa, será apresentado em Braga, Vila Real e Londres (2005) e em Paris (2006).

Análise ao espectáculo ACTOR, apresentada neste blog na altura da estreia:


Há, nesta proposta, uma tentativa de demonstração de que a anulação do actor em função da personagem é, à partida, um erro pois permitiria encarar todas as pessoas como actores. E, para além disso, fazer acreditar que esse é o caminho para se atingir a personagem. O que RNC prova é que, exactamente, esse caminho leva a um revelar não da personagem ou do actor, mas da pessoa atrás da personagem ou do actor. (...) Ao contrário do que acontecia em Saudades do tempo em que se dizia texto, RNC não procura metaforizar sobre uma memória que só é a sua por imposição cultural, mas antes dar lugar a um processo de evolução interno. (...) No plano estritamente formal, ACTOR é o espectáculo mais bem estruturado de RNC e em que este soube equilibrar o facilitismo em que às vezes cai (ainda que o revista de uma "urgência performática") com a necessidade de finalizar aquilo a que se propôs, mesmo que essa finalização seja um espectáculo em aberto. Nunca, no entanto, isso foi tão assumido. Parte desta inovação deve-se ao facto de RNC ter contado com a colaboração de terceiros em tarefas que, normalmente, assumia. O self made man torna-se, assim, e de certa forma, mais altruísta, permitindo uma segunda anulação do conceito de Stanislavski. Prova-se que um actor sozinho é capaz de muito pouco, mesmo que seja a força motora de um espectáculo.


Outros espectáculos de Rogério Nuno Costa analisados neste blog, podem ser vistos aqui.
Mais informações sobre o novo espectáculo do criador No Caminho, podem ser obtidas aqui.




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