quinta-feira, dezembro 02, 2004

Seminário Internacional de Jovens Críticos de Teatro (I)

Conforme foi anunciado, participei no Seminário Internacional para Jovens Críticos de Teatro, promovido pela Associação Internacional de Críticos de Teatro, e que decorreu entre 12 e 17 de Novembro no âmbito do PoNTI '04/13º Festival da União dos Teatros da Europa, no Porto.

A partir de hoje, e durante os próximos dias, O Melhor Anjo vai publicar as comunicações dos participantes do seminário sobre a situação do teatro nos seus países. Serão contribuições vindas da Escócia, Eslováquia, Bulgária, Roménia, Rússia, Quebec, Portugal, Algéria, México, Polónia e Moldávia. Os textos serão apresentados, quase todos, em inglês (haverá um ou outro em francês). Espera-se que esta seja uma oportunidade de dar a conhecer diversas realidades, nem sempre tão diferentes umas das outras. Os textos serão acompanhados de links para contextualização e breves apresentações dos autores.

Para abrir esta edição especial, publicam-se hoje os textos de apresentação e objectivos escritos para o programa do festival pelos coordenadores do Seminário: Paulo Eduardo Carvalho (em representação da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro) e Margareta Sörenson (Coordenadora dos Seminários Internacionais). Seguir-se-à, depois, a comunicação que os críticos séniores fizeram, em jeito de guia de consulta para o trabalho dos júniores.

Espera-se que seja interessante.

------

Como representante entre nós da Associação Internacional de Críticos de Teatro (AICT/IATC), a Associação Portuguesa (APCT) irá organizar, em colaboração com o TNSJ, um Seminário Internacional para Jovens Críticos, entre os dias 13 e 17 de Novembro, no âmbito do PoNTI'04/XIII Festival da União dos Teatros da Europa. Fundada em Paris em 1956 no âmbito da UNESCO, a AICT vem mantendo desde 1978 a iniciativa deste tipo de seminários visando não apenas o desenvolvimento do discurso crítico sobre a criação teatral, mas também a troca de experiências entre os mais jovens críticos de todo o mundo. Trata-se de reunir críticos com idades até aos 35 anos e em número nunca superior a 20, recomendados pelas diferentes associações nacionais que integram a AICT, numa cidade onde esteja a decorrer um festival, ou com uma actividade teatral suficientemente intensa para assegurar cerca de uma semana de espectáculos de teatro.

O grupo é dividido em dois sub-grupos, um anglófono e outro francófono, e compete à Directora de Estágios da AICT - neste momento, a sueca Margareta Sörenson (que sucede a Maria Helena Serôdio neste cargo) - designar um monitor para dirigir os trabalhos de cada um dos sub-grupos. Diariamente, os críticos e seus monitores assistem a espectáculos que na manhã seguinte serão objecto de análise e discussão. Começam por reunir separadamente cabendo a um participante de cada sub-grupo ser relator da discussão havida quando, depois de um breve intervalo, o grupo reúne para uma troca final de impressões, conduzida pela Directora de Seminários. O encontro de todo o grupo é também a ocasião para uma mais intensa troca de experiências, informações e opiniões sobre a situação da crítica e do teatro nos países de cada um dos participantes. Dependendo das oportunidades criadas pela entidade anfitriã, estes jovens críticos poderão igualmente participar em debates públicos, mesas-redondas, etc., prevendo-se ainda que, de regresso aos seus países e locais de trabalho, possam vir a publicar artigos sobre os espectáculos vistos durante o tempo do seminário.

Desta forma se cumpre uma das principais ambições da AICT: reunir críticos, sejam eles jornalistas ou académicos, em vista à intensificação de um intercâmbio de conhecimentos, experiências e opiniões, promovendo o exercício da crítica de teatro como uma disciplina e contribuindo para o desenvolvimento das suas bases metodológicas. Um dos resultados mais positivos deste tipo de iniciativas costuma ser, justamente, a formação de uma rede informal de colegas e amigos que partilham a mesma actividade e que, desejavelmente, permanecerão em contacto, actualizando entre si, e de forma regular, o conhecimento das suas respectivas realidades teatrais. Desde o primeiro seminário, em Novi Sad, já se realizaram mais de 35 encontros, incluindo os dois que tiveram lugar no âmbito do Festival de Almada, em 1996 e 2002.

Coincidindo com o lançamento da revista de teatro Sinais de cena, a realização deste terceiro Seminário Internacional para Jovens Críticos em Portugal constitui para a APCT um motivo de particular satisfação, uma vez que ele se apresenta como um esforço mais na prossecução dos objectivos a que se propõe esta Associação: "Dignificar, estruturar e responsabilizar a actividade crítica relativa à teoria e prática do teatro, entendendo-se por actividade crítica não só a crítica de espectáculos, mas também tudo aquilo que diga respeito à informação, reflexão e teorização no campo das artes performativas".

PAULO EDUARDO CARVALHO é crítico de teatro no jornal Duas Colunas e na revista Sinais de Cena. É ainda tradutor e professor na Faculdade de Letras da Unibversidade do Porto.

-----

Um jovem crítico teatral que se dispõe a gastar uma semana da sua vida num seminário internacional sobre crítica de teatro é, tanto quanto tenho visto, uma pessoa socialmente dotada e profissionalmente bem preparada. Normalmente é também uma pessoa com formação superior; num qualquer grupo de jovens críticos é comum encontrarem-se dois ou três doutorados. Nove em cada dez críticos jovens são mulheres; oito em cada dez são europeus; nove em cada dez são trabalhadores independentes ou freelancers, isto é, sem contrato permanente.Nove em cada dez sentem-se bloqueados (no que talvez tenham perfeita razão) por alguns cavalheiros mais velhos que dominam os jornais nacionais e representam uma concepção geral do teatro como literatura encenada.

Os jovens críticos escrevem sobre teatro, mas também sobre cinema, moda e estilos de vida, além de colaborarem com crescente frequência em websites. Têm programas de rádio e até de televisão (mas isto só acontece em países onde o teatro ocupa uma posição muito forte - como, por exemplo, na Roménia). Os jovens críticos estão totalmente dependentes das condições da imprensa e dos restantes meios de comunicação, e a situação é difícil (para não dizer delicada) no caso da imprensa, a qual se vê obrigada, na maioria dos países, a novas formas de escrita mais comerciais.Durante o seminário de formação, os jovens críticos teatrais assistem a espectáculos de teatro ao serão, reúnem-se para as sessões do seminário durante a manhã e dispõem de algum tempo livre durante a tarde.

O seminário constitui uma possibilidade de intercâmbio e de estabelecimento de relações profissionais com colegas de outros países, bem como uma oportunidade para uma reflexão profunda sobre algumas questões cruciais para os críticos de teatro. Para quem escrevemos? Como desenvolvemos essa mistura especial de informação, análise e avaliação que o texto crítico constitui? Como criar um estilo pessoal de escrita? Como encontrar um lugar na paisagem mediática? Como lidamos com o teatro e com a sua evolução para uma arte performativa multimédia?Os tópicos relevantes são inúmeros; porém, procuro integrar no seminário algumas palestras relacionadas com os espectáculos a que os participantes assistirão. Por vezes, o programa do seminário inclui workshops de escrita - a pedido, por exemplo, de um jornal ou revista do país anfitrião. Evidentemente, o mais importante é que o seminário de formação dê resposta às necessidades dos participantes!

De acordo com a minha experiência pessoal, estes encontros entre críticos jovens e ambiciosos propiciam trocas de ideias muito intensas e extremamente úteis.

MARGARETA SÖRENSON é directora dos Seminários de Formação da AICT. É crítica de teatro no jornal sueco Expressen, tendo desenvolvido investigação no teatro de marionetas e dança.

Sem comentários:

Enviar um comentário