segunda-feira, dezembro 06, 2004

A lei dos amantes (48)

Quanto a mim...
O amor passou.
Eu só lhe peço que não faça
como a gente vulgar, e não
me volte a cara quando passe por si.
Nem tenha de mim uma recordação
em que entre o rancor.
Fiquemos um perante o outro,
Como dois conhecidos desde a infância,
que se amaram um pouco quando meninos, e,
embora na vida adulta
sigam outras afeições,
conservou num escaninho
da alma, a memória
do seu amor antigo e inútil.

Fernando Pessoa

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