6ª Mostra de teatro jovem de Lisboa MostraTE (VIII) - OPHELIA
Ophelia
A menina dos meus olhos
um espectáculo de Marina Nabais e Rogério Nuno Costa
6ª Mostra de teatro Jovem de Lisboa
Teatro Taborda
25 Novembro
22h00
Uma espécie de diário de bordo, caderno de notas, relatório de progressos de uma aturada investigação à volta da personagem Ofélia, criada por William Shakespeare. Centra-se no carácter mítico da personagem, lembrando os produtos televisivos de cariz cultural-comercial da década de 80 e que esventraram as mitologias contidas nas vidas de uma Marilyn Monroe ou de uma Eva Perón.
A figura que empreende tal trabalho de pesquisa é a bem portuguesa Ophélia Queiroz, amada de Fernando Pessoa, que vê na Ofélia shakespeariana o reflexo das suas próprias vicissitudes.
Ophelia instala-se, assim, numa intersecção qualquer de realidade e de ficção, onde se misturam exegeses literárias à volta da internacionalização artística do mito ofélico com apropriações inverosímeis e absurdas de textos que jamais foram escritos, cartas deturpadas, melodias descontextualizadas historicamente, etc.
Em última instância, haverá lugar ainda para uma "terceira" Ofélia, enlouquecida meta-linguisticamente pelo próprio espectáculo. Mas dessa preferimos não desvendar muito mais.
encenação ROGÉRIO NUNO COSTA interpretação MARINA NABAIS vídeo ANTÓNIO M. CABRITA paisagem sonora & música original NANÚ luz JOSÉ ÁLVARO espaço e adereços F. RIBEIRO figurinos, cabelos & maquilhagem MARISA LOURENÇO fotografia LUÍSA CASELLA design PATRÍCIA ROCHA produção A MENINA DOS MEUS OLHOS AC
O Melhor Anjo (OMA): Porque decidiram apresentar a proposta de apresentação do espectáculo à MostraTE? Contributo para uma montra do novo teatro feito na capital ou bolsa de ar para a produção de projectos?
Rogério Nuno Costa/Marina Nabais (RNC/MN): Antes de mais, gostaríamos de dizer que é sempre muito difícil responder a uma pergunta que já dá as respostas (ainda que sob a forma de outras perguntas...). Assim sendo, pouco mais podemos dizer para além do 'sim', como resposta às duas perguntas (leia-se: hipóteses de resposta), que nos foram feitas. Respondemos sim ao contributo para uma montra do novo teatro feito na capital, mais pelo efeito da visibilidade que a dita montra proporciona, do que propriamente pela inserção num contexto artístico (que neste caso é subjectivado por uma série de escolhas da qual não fizemos parte); e respondemos sim à "bolsa de ar" para a produção de projectos, ainda que o formato reposição seja sempre muito mais viável (em vários e diversos aspectos, financeiros e outros) que o formato estreia. No nosso caso específico, fazia sentido repor a 'Ophelia'; pura e simplesmente, porque nos apetecia revisitar um espaço performativo criado há dois anos, para ver o que poderia acontecer. É nisso que estamos a trabalhar.
OMA: Como contextualizam/posicionam o vosso espectáculo no panorama teatral português? Foi essa uma preocupação quando o produziram?
RNC/MN: Na altura em que produzimos, criámos e pusemos a 'Ophelia' em cena, não tínhamos absolutamente nenhuma preocupação de posicionamento contextual em relação àquilo que poderíamos estar a propor. Trata-se do primeiro de vários espectáculos que fizemos juntos, com uma abordagem muito pessoal de urgência e de comunicação. Foi produzido sem um único centavo das instituições competentes e teve uma aparição muito discreta e fugaz. Passados estes dois anos, somos obviamente capazes de enquadrar o espectáculo, não só no nosso percurso, mas também no contexto artístico do qual fazemos parte e com o qual temos tentado "dialogar". Mas trata-se de um exercício que, muito sinceramente, não nos interessa, até porque a própria palavra "enquadramento" nos causa uma certa comichão no céu da boca, quando aquilo que temos tentado a cada espectáculo se prende, justamente, com uma ânsia de "desenquadramento", seja lá isso o que for. Em última análise, a pergunta refere-se ao tempo da produção e não ao actual. E dois anos, assim como assim, é muito tempo.
OMA: Que relação se estabelece com o público numa apresentação isolada?
RNC/MN: Numa apresentação isolada, deve acontecer muitas e variadas coisas, quer ao público, quer ao próprio espectáculo, quer ainda à organização do evento que sustenta essa apresentação isolada. Agora, porque é isolada, e porque é montada, apresentada e arrumada à velocidade da luz, não há objectivamente tempo (físico e mental) para se perceber realmente o que é que (nos) aconteceu. Já participámos nalgumas Mostras, e o sentimento final é sempre o mesmo: um cansaço brutal e a sensação de que se ficou sem perceber o que realmente foi comunicado para o público. Mas estamos provavelmente a dissecar a principal característica de uma Mostra de projectos - a efemeridade - com a qual temos obrigatoriamente de saber lidar, senão mesmo "integrar" na forma como apresentamos o nosso trabalho. E isso pode até ser muito mais interessante do que utilizar a Mostra como uma injecção 'fácil' de dinheiro.
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